Ações coletivas e resistências frente à insegurança alimentar durante a pandemia da COVID-19

o caso das cozinhas comunitárias no Peru

Resumo

Com a chegada da pandemia da COVID-19 ao Peru, houve um rápido aumento da insegurança alimentar, devido aos efeitos econômicos e sociais da pandemia e os efeitos indesejados derivados do Estado de Emergência Nacional. Diante da resposta tardia e insuficiente do Estado, as cozinhas comunitárias - CC ressurgiram de forma imediata, como ações coletivas e solidárias para recolher, preparar e distribuir rações de alimentos às famílias mais vulneráveis. A partir de sua participação em instâncias de governança da Municipalidade Metropolitana de Lima, as CC criaram a Rede de CC de Lima Metropolitana, como instância de condução e coordenação. Através desta Rede, as CC realizaram incidência política para seu registro e entrega de alimentos do Estado, e controle social para a adequada implementação de tais processos. Em meados de 2021, a Rede, sua equipe técnica e suas aliadas políticas se consolidaram como uma coalizão de defensa, conseguindo a aprovação de leis e decretos sobre segurança alimentar e nutricional, e seu financiamento. No entanto, quase sempre houve resistência do Estado à participação das CC no processo de elaboração de políticas públicas, algumas leis não foram regulamentadas e o financiamento foi insuficiente para garantir sua sustentabilidade. Atualmente, existem 3.364 CC registradas, em 14 departamentos (incluindo Lima Metropolitana) e Callao, com 229.072 beneficiárias. A sua agenda política incluiu não só a garantia do orçamento público alimentar, mas também políticas de recuperação de alimentos, alimentação saudável e agricultura familiar. Perante a persistência das condições para uma crise alimentar de longa data a nível mundial, e particularmente na América Latina e o Caribe, as CC poderiam consolidar-se como práticas de resistência à fome, espaços de discussão e reflexão crítica e de mobilização social.