Possibilidades para educação interprofissional em saúde em uma Universidade Pública Federal
DOI:
https://doi.org/10.14295/jmphc.v8i3.655Resumo
Introdução: O objeto do presente estudo é a educação interprofissional (EIP) em saúde no âmbito de cursos de graduação, reconhecida mundialmente como o aprendizado interativo entre membros de duas ou mais áreas profissionais da saúde, com a finalidade de melhorar a colaboração interprofissional e os resultados do cuidado à saúde dos usuários (PEDUZZI, 2013). Embora as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para a formação em saúde enfatizem o trabalho em equipe, no Brasil, ainda predomina a uniprofissionalidade, com inexistência de contato entre estudantes dos cursos da saúde e dificuldade no conhecimento das funções de cada um no seu ambiente de trabalho (PEDUZZI et al, 2013). O presente estudo se propõe a investigar a disponibilidade dos estudantes dos cursos de graduação em saúde de uma universidade pública federal do Estado de São Paulo para o aprendizado interprofissional e poderá contribuir para a construção de iniciativas de reorganização do ensino em prol do trabalho em equipe. 2. Objetivo Analisar a disponibilidade dos estudantes de graduação em saúde para o aprendizado interprofissional. 3. Método Foi realizado um estudo quantitativo descritivo exploratório para analisar a disponibilidade dos estudantes do curso de graduação em saúde de uma universidade pública federal do Estado de São Paulo para o aprendizado interprofissional. A coleta de dados ocorreu no período e janeiro a junho de 2017 após a aprovação da pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa, cujo protocolo é CAAE 58833616.6.0000.5504. Os dados foram coletados presencialmente, com a autorização do professor responsável pela disciplina, mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O instrumento utilizado foi a Readiness for Interprofessional Learning Scale (RIPLS), adaptada e traduzida para o português (PEDUZZI et al, 2015). Os dados foram inseridos em banco de dados Excel e analisados por meio de estatística descritiva simples. 4. Resultados O estudo contou com a participação de 169 estudantes, ingressantes nos anos 2012, 2014, 2015 e 2017, dos cursos de enfermagem, fisioterapia, gerontologia, medicina e terapia ocupacional, sendo 133 (79,69%) do sexo feminino, 33 (20,24%) do sexo masculino. Em relação ao momento de formação, 110 (65,08%) estudantes são calouros, do primeiro semestre de graduação, enquanto 53 (31,36%) são veteranos. Os resultados da disponibilidade para com aprendizado interprofissional obtidos com a aplicação da RIPLS estão apresentados considerando que o primeiro percentual do parêntesis se refere aos dados dos estudantes ingressantes no curso e o segundo aos que estão finalizando a graduação. A maioria dos estudantes, tanto os ingressantes de 2017 quanto de outros anos, concordaram com assertivas como "em última análise, os pacientes seriam beneficiados se estudantes da área da saúde trabalhassem juntos para resolver os problemas dos pacientes" (98,18%; 90,56%), “habilidades de trabalho em equipe são essenciais na aprendizagem de todos os estudantes da área da saúde” (93,63%; 94,34%). Os referidos resultados mostram que os estudantes compreendem a importância da EIP durante a formação profissional e expressam interesse e possibilidades de fortalecer o trabalho em equipe. Também se identificou elevada concordância nos itens da escala que remetem aspectos da comunicação como “a aprendizagem compartilhada durante a graduação me ajudará a tornar-me um profissional que trabalha melhor em equipe” (93,64%; 94,4%). Em relação à identidade profissional, os participantes do primeiro ano pareceram indecisos ao assinalarem “nem concordo nem discordo” (37,27%) na assertiva “chegar a um diagnóstico será a principal função do meu papel profissional (objetivo clínico)”, vale destacar que de fato nem todos os profissionais da saúde tem essa finalidade na prática. Em contrapartida, os estudantes na metade e final do curso discordaram (47,17%) deste mesmo item, porém não mostraram muita convicção ao não concordarem, já que apenas (11,32%) discordaram totalmente. Ainda sobre essa categoria da identidade profissional, 70% dos estudantes do primeiro ano e 81,13% dos participantes dos outros anos discordaram da assertiva "falta-me clareza sobre qual será meu papel profissional na equipe de saúde", mostrando que mesmo que o estudante ingresse na universidade com conhecimento sobre seu papel no ambiente de trabalho, no decorrer da formação desenvolve sua identidade profissional. Destacam-se “a função dos demais profissionais da saúde é principalmente apoio aos médicos” (80%; 96,23%) e “preciso adquirir muito mais conhecimentos e habilidades que estudantes de outras profissões da saúde” (56,36%; 66,04%). O alto índice de discordância dos participantes, nos itens que se referem à prática uniprofissional, mostra que reconhecem a horizontalidade entre as profissões de saúde, assim como os estudantes da UNIFOR (NUTO et al, 2017) e da Universidade Federal de São Paulo, campus Baixada Santista (SOUTO et al, 2014). Os estudantes mais antigos de curso possuem uma opinião um pouco mais consolidada do que os estudantes mais novos sobre a atenção centrada no paciente e integralidade do cuidado, uma vez que 54,72% daqueles concordaram com o item, “a opinião do paciente pode mudar minha conduta clínica” e os mais novos tiveram a opinião dividida entre “nem concordo nem discordo” (39,09%) e “concordo” (36,39%). Porém, nos itens "gosto de entender o problema na perspectiva do paciente" (93,64%, 100%) e "pensar no paciente como uma pessoa é importante para indicar o tratamento correto" (98,19%; 98,11%), tanto os estudantes do primeiro ano quanto os estudantes dos outros anos tiveram nível de concordância próximos. Tais assertivas mostra que há um tensionamento das ações entre o saber técnico profissional e o reconhecimento da importância da opinião do paciente no seu próprio cuidado, afim de ressignificar as condutas profissionais. A mudança das concepções dos estudantes requer a reflexão sobre a importância da perspectiva ampliada do cuidado à saúde, que "se refere à atuação profissional e concepções de saúde que remetem ao reconhecimento da necessidade de um elenco variado de profissionais" (AGRELI et al, 2016), possibilitando o trabalho em equipe e cuidado integral do paciente. 5. Conclusão O estudo aponta que os estudantes de graduação em saúde mostraram-se dispostos para o aprendizado compartilhado durante a formação profissional, possibilitando o trabalho em equipe no ambiente de trabalho, atenção centrada no paciente e qualidade na assistência a saúde. Para isso, é necessário que os graduandos em saúde da universidade estudada tenham mais atividades que possibilitem a interprofissionalidade, não só atividades extracurriculares, mas também em disciplinas obrigatórias, ao contrário do que a universidade oferece. Assim, os estudantes poderão praticar a comunicação, interação e colaboração voltada para qualidade no cuidado do paciente.
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