Contribuições de políticas indutoras para a educação interprofissional em cursos de graduação em saúde
DOI:
https://doi.org/10.14295/jmphc.v8i3.641Resumo
A formação profissional na área de saúde é de extrema importância para a construção, manutenção e consolidação de modelos de saúde. Busca-se atualmente a formação de um profissional com o perfil que atenda as necessidades em saúde das pessoas, e que ofereça o cuidado do paciente de forma integral (Pagliosa e Da Ros, 2008). A ênfase no modelo biomédico ou flexneriano, centrado na doença e no hospital, conduziu os programas educacionais a uma visão reducionista. É necessário alcançar um modelo educacional pautado em uma formação mais contextualizada, que associe dimensões sociais, econômicas e culturais da vida da população (Campos et al, 2001). As propostas de reordenação dos modelos de saúde, que buscam a conversão do modelo assistencial na Atenção Primária para a lógica da Estratégia Saúde da Família preveem mudanças no serviço e na formação profissional, para que essas modificações se traduzam em ações e práticas profissionais. Assim, há necessidade de investimentos para a reestruturação dos currículos e das metodologias dos cursos de graduação e pós- graduação em saúde, assim como no desenvolvimento dos profissionais que já estãoatuando nos serviços. Entretanto, é necessário reconhecer que as transformações que se espera nos cursos da área da saúde exigem uma reorientação da lógica do sistema formador. As políticas indutoras de reorientação da formação incluem em suas diretrizes a educação interprofissional (EI), pautada na colaboração e na cooperação. A complexidade desta temática envolve, dentre outros desafios, a necessidade de mudanças culturais. Existem discussões em torno dessas questões há décadas em alguns países. Apesar da integração entre diferentes áreas da saúde ocorrer durante a formação da graduação, e apesar do fato de diferentes profissionais de saúde dividirem o mesmo espaço de trabalho, ainda não houve êxito em se modificar a cultura do cuidado em saúde baseado no isolamento profissional para um sistema de cooperação que possa contribuir para uma visão comum em saúde (Herbert, 2005). Nesse sentido, dentre diversas políticas indutoras de reorientação na formação, uma importante iniciativa foi a implantação do Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde) com editais em 2005, 2007 e 2012, e sua continuidade pelo GraduaSUS em 2015. O Pró-Saúde/GraduaSUS busca induzir a integração ensino-serviço, com o foco na reorientação da formação profissional em saúde, assegurando uma abordagem integral do processo saúde-doença com ênfase na Atenção Primária. Considerando que a Universidade de Brasília tem sido contemplada desde o Edital do Pró- Saúde de 2007 (Brasil, 2007), torna-se relevante verificar se os objetivos propostos em ações desses programas estão sendo ou foram alcançados, assim como permitir que ajustes sejam realizados, casos se façam necessários. Objetivos: O presente estudo objetiva fazer uma análise da implementação do Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde)/GraduaSUS, em cursos de graduação em saúde, do Campus Darcy Ribeiro, da Universidade de Brasília, sob a ótica de diferentes sujeitos envolvidos no processo. Métodos: A metodologia proposta para este estudo foi baseada naquela utilizada para o desenvolvimento de projeto de pesquisa anteriormente desenvolvido (Furlanetto, 2015), em que os cursos de Enfermagem, Medicina e Odontologia, do Campus Darcy Ribeiro, foram analisados com os mesmos propósitos do presente estudo. Na presente proposta, os cursos de graduação de Farmácia, Nutrição e Saúde Coletiva foram incluídos. Trata-se de uma pesquisa de natureza quantitativo, do tipo descritiva. A população do estudo foi constituída por estudantes e professores dos cursos incluídos na pesquisa. Essa população vivencia um cenário contemplado em dois dos três Editais do Programa Pró-Saúde, desenvolvidos no âmbito dos três cursos e atualmente contemplados pelo Edital do GraduaSUS, de 2015. Foi aplicado o mesmo instrumento anteriormente validado e aplicado para os cursos de Medicina, Enfermagem e Odontologia (Furlanetto, 2015). Trata-se de uma escala de atitudes do tipo Likert, composto por assertivas com atitudes positivas e negativas relacionadas ao objeto de estudo. O instrumento é dividido em duas seções. A Seção 1 ficou composta por itens relacionados a dados sociodemográficos e profissionais nos instrumentos dirigidos aos professores, e dados sociodemográficos e acadêmicos nos instrumentos dirigidos aos estudantes. A Seção 2 foi organizada por quatro blocos de itens, separados por incluírem diferentes dimensões (teórica, cenários de práticas, reorientação da formação e dimensão pedagógica). Sua elaboração teve como base teórica os eixos propostos no Pró-Saúde (Brasil, 2007). Os dados coletados foram tabulados no programa Excel 7.0 e para a análise estatística foi empregado o programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences). Foi realizada análise descritiva dos dados obtidos na seção 1 (para estudantes e professores) e na seção 2 do instrumento (para estudantes e professores), com ênfase aos itens relacionados à educação interprofissional. Após isso, será realizada comparação entre os resultados obtidos por acadêmicos e professores. Da aplicação deste instrumento obteve-se uma caracterização inicial dos cursos, em relação às tendências atitudinais de professores e estudantes. Este estudo é uma das etapas de um estudo em andamento que envolverá em etapas seguintes a realização de entrevistas e grupos focais, para análise qualitativa e posterior triangulação dos dados. Resultados: Os resultados obtidos no presente estudo demonstraram o potencial que possuem as políticas indutoras de reorientação da formação, como os Programas Pró-Saúde e GraduaSUS aqui analisados, em fortalecer a reorientação curricular que buscam induzir mudanças nas práticas de saúde. Percebeu-se que apesar das potencialidades dos referidos Programas em oportunizar integração entre cursos e dentro dos próprios cursos; interação entre os cursos de saúde, a motivação para o desenvolvimento de atividades interdisciplinares e fortalecimento do trabalho em equipe, estratégias adicionais devem ser desenvolvidas para lidar com questões que envolvem mudanças culturais e, portanto, complexas em suas abordagens. Conclusões: Apesar das ações em andamento, os resultados sugerem que há muito a ser feito para se alcançar uma formação na graduação em saúde que caminhe na direção da educação interprofissional e do trabalho colaborativo, e com isso atingir as reais necessidades do sistema de saúde brasileiro. Existe a necessidade de estratégias de fortalecimento para que mudanças mais profundas na formação e perfil profissional ocorram. Considerando a complexidade que envolve questões que requerem mudanças históricas e culturais, políticas indutoras com ênfase na educação interprofissional deveriam ser colocadas na agenda
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