Estágio curricular interprofissional: possibilitando o desenvolvimento de competências para o trabalho em equipe

Autores

  • Ana Wládia Silva de Lima Universidade Federal de Pernambuco
  • Ygor Inácio Silva Universidade Federal de Pernambuco
  • Daniele Felix de Melo Silva Universidade Federal de Pernambuco
  • Dáfni Lemos da Costa Borba Universidade Federal de Pernambuco
  • Izabela Alves Pereira Universidade Federal de Pernambuco

DOI:

https://doi.org/10.14295/jmphc.v8i3.613

Resumo

Introdução: A formação do profissional de saúde no Brasil acontece na maioria das Instituições de Ensino Superior (IES) de forma fragmentada, uniprofissional, reducionista. Um modelo de formação balizado prioritariamente na regulamentação das profissões na demarcação de territórios de atuação e competência. Este é o modelo que se encontra inserido de forma hegemônica nos currículos de formação profissional (ELLERY,2012). Esse modelo se reproduz na prática profissional, onde pouco se observa processos efetivos de trabalho colaborativo atendendo de forma ineficaz a complexidade de cuidados em saúde  que a população atualmente demanda aos serviços e profissionais da saúde (PEDUZZI et al,2013). No mundo o ensino em saúde avançou para reformas na formação dos profissionais em saúde, três gerações de reformas são apontadas desde a década de 1970 saindo de modelos reducionistas para transformadores com a integração de saberes onde a Educação Interprofissional é apontada como potencial (FRENK et al, 2010). Evidências apontam aumento de atitudes colaborativas, de tomada de decisão compartilhada, de confiança na equipe, de comunicação, do reconhecimento dos papeis profissionais,  da  complementaridade das competências e do trabalho em equipe em alunos que vivenciaram   a Educação Interprofissional (LAPKIN et al,2013). No Brasil a pressão social para reformas do modelo de formação culminou na década de 1990 com a promulgação das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para a educação superior, que orientam mudanças na construção dos perfis profissionais voltados para a interdisciplinaridade, a integralidade do cuidado e o trabalho em equipe (CECCIM;FEUERWERKER, 2004). Mais de 15 anos após a publicação das DCN, a interdisciplinaridade, a integração dos currículos e as experiências de formação para o trabalho em equipe acontece de forma lenta e isolada em algumas IES brasileiras. Objetivo: Compreender se a experiência da EIP aplicada no Estágio Curricular Supervisionado dos cursos de graduação em saúde é possível de ser realizada e se o a Educação Interprofissional (EIP) promove o desenvolvimento de competências para o trabalho em equipe. Método: Trata-se de uma pesquisa qualitativa, por meio da estratégia da pesquisa intervenção (PI), envolvendo cinco cursos de graduação, bacharelados em Enfermagem, Nutrição, Saúde Coletiva, Educação Física e Licenciatura em Ciências Biológicas do Centro Acadêmico de Vitória da Universidade Federal de Pernambuco. Participaram do estudo oito discentes que foram organizados em duas equipes interprofissionais com um aluno por curso. O estudo foi realizado de agosto a novembro de 2016. As equipes atuaram nos cenários da USF e na Escola municipal de educação básica, desenvolvendo atividades de cuidado à saúde na perspectiva da interprofissionalidade. Operacionalização da PI. Para a articulação institucional foram realizadas reuniões envolvendo os gestores do CAV/UFPE (direção, coordenadores de curso, coordenação de estágios), onde a proposta da PI foi apresentada articulada a proposta do PET Gradua SUS 2016-2018 do CAV/UFPE passando a ser uma proposta institucional na linha de mudanças curriculares atendendo a este Edital. No espaço de atuação prática, na USF/NASF e na Escola, realizou-se reuniões de articulação sendo planejada oficinas de discussão sobre a temática e planejamento das ações da equipe discente interprofissional (EqDIP), que aconteciam uma vez por semana em um dos dois cenários de atuação (Escola ou ESF). O plano de atividades foi construído coletivamente com docentes e discentes. Na atenção básica as atividades consistiam na construção de um plano de cuidados integral a uma  família ou indivíduo. Em equipe os alunos realizavam visita domiciliar objetivando conhecer  as condições de vida da família, posteriormente construíam o plano de cuidados de acordo com as necessidades observadas e aplicavam e acompanhavam o desenrolar do plano durante o período do ECIP. Cada discente em seu campo de saber partilhava as propostas  de cuidados que eram discutidas coletivamente. Na escola as atividades envolveram ações de educação em saúde a partir de temas sugeridos pelos professores contemplando as necessidades locais, ambas as atividades eram supervisionadas e orientadas por  preceptores e tutores. Os dados da pesquisa foram gerados por meio de grupos focais,  sendo o corpus processado no software ATLAS.Ti com posterior análise de conteúdo na modalidade temática. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética do CCS/UFPE CAAE Nº 55947616.3.0000.5208. Resultados: Apresentamos resultados parciais referente aos dados gerados da atuação da EqDIP na USF. O ECIP aconteceu de forma satisfatória nos campos de formação prática. Inicialmente observou-se certo estranhamento por parte dos profissionais da ESF e NASF em relação a como fazer a supervisão interprofissional, o que  foi minimizado com o andamento do estágio e discussões em equipe. Em relação à possibilidade da EIP promover o desenvolvimento de competências para o trabalho em equipe foi possível verificar nas narrativas que a experiência da atuação junto com discentes de outras formações permitiu identificar competências específicas dos outros profissionais  em formação e também da sua, permitindo a compreensão dos papeis profissionais e a importância da colaboração e troca de saberes. [...] É como ela falou cada um tem uma  visão, eu vejo de uma forma ela vê de outra, são cursos que se complementam porque, se  eu tivesse feito a intervenção sozinha, não teria sido tão completa [...] (Estudante de Enfermagem). [...] eu identifiquei uma senhora acamada, eu não pude auxiliar muito em relação aos cuidados, mudança de decúbito, então eu vi a importância de trabalhar em equipe, de conhecer todas as áreas, você acaba aprendendo um pouquinho sobre cada  coisa e ai pode sim passar informações [...] (Estudante de Saúde Coletiva). [...] eu nunca tinha tido a experiência de trabalhar em conjunto com outros profissionais, então eu pude ver a capacidade deles somada a minha para o bem-estar do paciente [...] (Estudante de Nutrição) [...] ter que dividir essa experiência com outro estudante, gostei muito, de perceber que você precisa de outra pessoa, com outros conhecimentos para fazer o seu melhor [...] (Estudante de Enfermagem). Conclusão: A experiência do ECIP dos cursos de saúde do CAV/UFPE foi considerada possível de ser desenvolvida nas dimensões institucionais envolvendo: tempo, território, e atividades comuns e específicas no módulo interprofissional por meio de planejamento coletivo entre as coordenações de estágio e preceptores  do serviço minimizando os estranhamentos. Compreendemos que a experiência da EIP promoveu o desenvolvimento de competências para o trabalho em equipe através  de  atitudes de colaboração, compartilhamento de saberes, e reconhecimento dos papeis profissionais.

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Publicado

19-09-2018

Como Citar

1.
de Lima AWS, Silva YI, Silva DF de M, Borba DL da C, Pereira IA. Estágio curricular interprofissional: possibilitando o desenvolvimento de competências para o trabalho em equipe. J Manag Prim Health Care [Internet]. 19º de setembro de 2018 [citado 4º de novembro de 2024];8(3):49-50. Disponível em: https://jmphc.emnuvens.com.br/jmphc/article/view/613