Saúde, reprodução social no capitalismo e o trabalho feminino em Lise Vogel

uma revisão integrativa

Autores

  • Nayara Rúbio Campos Universidade de São Paulo – USP, Faculdade de Saúde Pública – FSP, Curso de Economia e Gestão da Saúde, Departamento de Política, Gestão e Saúde. São Paulo, SP, Brasil. https://orcid.org/0000-0002-5878-4894
  • Leonardo Carnut Universidade de São Paulo – USP, Faculdade de Saúde Pública – FSP, Curso de Economia e Gestão da Saúde, Departamento de Política, Gestão e Saúde. São Paulo, SP, Brasil. https://orcid.org/0000-0001-6415-6977

DOI:

https://doi.org/10.14295/jmphc.v17.1461

Palavras-chave:

Saúde, Feminismo, Papel de Gênero

Resumo

A Teoria da Reprodução Social – TRS está ancorada na análise das interseções entre o capitalismo e a opressão às mulheres, partindo da premissa de que as atividades relacionadas à manutenção da vida como cuidado, alimentação, educação e saúde são essenciais para a sobrevivência e reprodução da classe trabalhadora no sistema capitalista. A TRS propõe uma ampliação da crítica marxista clássica ao dar centralidade à reprodução da força de trabalho como um processo indispensável à acumulação de capital, destacando o papel estrutural da divisão sexual do trabalho nessa dinâmica. A partir dessas contribuições a feminista-socialista, Lise Vogel, busca por uma explicação teórica única (teoria unitária) e integrada tanto da opressão às mulheres quanto do modo de produção capitalista. Para Vogel, o trabalho feminino, muitas vezes invisibilizado, não remunerado ou desvalorizado – é responsável por garantir a continuidade da força de trabalho, sendo, portanto, um componente essencial da lógica de valorização do capital. Nesse sentido, a reprodução social não é uma esfera subordinada à produção, mas uma condição fundamental para sua existência. Com o avanço do neoliberalismo, observa-se o encolhimento da participação estatal nesse processo, transferindo às famílias e, em particular às mulheres, a responsabilidade pelo cuidado e manutenção da vida. Assim, o trabalho reprodutivo feminino é intensificado, ainda que permaneça fora do circuito direto da produção de mercadorias. Nesse cenário, evidencia-se ainda mais a imbricação entre capitalismo, gênero, raça e classe na organização da reprodução social. Ao trazer à tona a centralidade do corpo feminino na reprodução biológica e social da força de trabalho, a TRS também nos obriga a olhar para as políticas públicas de saúde com um novo enfoque. A saúde da mulher trabalhadora não é apenas uma demanda social ou um direito humano, mas uma necessidade estrutural do sistema capitalista. Dessa forma, o presente trabalho se propõe a discutir como a teoria da reprodução social, conforme desenvolvida por Lise Vogel, oferece uma base analítica para entender o trabalho da mulher na saúde de sua família como dimensão constitutiva da reprodução da força de trabalho no capitalismo. A partir de uma revisão da literatura, busca-se compreender como a saúde está articulada à lógica reprodutiva do sistema nos estudos que usam sua visão e como as políticas estatais voltadas a essa área se inserem na dinâmica de sustentação do modo de produção capitalista. Logo, o objetivo do estudo é revisar o que a teoria da reprodução social elaborada por Lise Vogel apresenta sobre a dimensão da saúde na reprodução social no capitalismo e o trabalho da mulher nessa reprodução. Como objetivos específicos, este estudo visa: (a) analisar o conceito da Teoria da Reprodução Social apresentado por Lise Vogel; (b) verificar como a saúde é compreendida dentro da perspectiva na TRS; e (c) compreender o trabalho feminino no campo da reprodução social a partir da teoria de Lise Vogel. O método escolhido para esta pesquisa foi o de revisão integrativa da literatura, que apresentou como base inicial a seguinte pergunta: “Como a produção científica de Lise Vogel discute a dimensão saúde no trabalho feminino reprodutivo?”. Utilizou-se como fonte de dados o Google Acadêmico (Google Scholar). O Google Acadêmico, por sua vez, permite o acesso a publicações de revistas locais, ampliando as possibilidades de encontrar pesquisas mais alinhadas ao tema do estudo. A estratégia de busca foi baseada na identificação dos principais polos da pergunta, sendo estes: “saúde” definida como ‘fenômeno’ e “Lise Vogel” definida como ‘referência teórica’ central. Após a identificação destes itens chaves, elegeu-se os termos livres correspondentes a cada item chave, sendo que para o polo fenômeno (saúde), foram selecionados como termos livres para pesquisa: “serviços de saúde”; “saúde pública”; “política de saúde”; “saúde coletiva”; “atenção à saúde”; “saúde da família”; “atenção primária à saúde”; “gestão em saúde”; “gastos em saúde”; “avaliação econômica em saúde” e “saúde do trabalhador”. Para a referência teórica central (Lise Vogel) foram definidos os seguintes termos livres: “teoria da reprodução social”; “teoria unitária”; “marxismo”; “capitalismo”; “opressão às mulheres”; “luta de classes”; “patriarcado”; “divisão sexual do trabalho”; “feminismo”; “classe social”; “trabalho doméstico”; “mais-valor”. Optou-se pelo recorte temporal de 2014 a 2024 por incluir a publicação da tradução brasileira da obra de Lise Vogel (Marxismo e a opressão das mulheres, publicada pela Boitempo em 2014), fato que ampliou o acesso e potencializou novos estudos no contexto de língua portuguesa. Ao usar os termos centrais identificados como essenciais para manter a coerência com a pergunta de pesquisa, foram elaboradas sintaxes de busca com base nos itens-chave. Ao acessar a página do banco de dados, foram criados 27 cruzamentos entre os termos usando o operador booleano ‘AND’. A pesquisa final foi realizada no dia 14 de maio de 2025 e nenhuma publicação adicional foi incluída neste estudo após esta data, resultando em uma sintaxe com 1.426 publicações no portal Google Acadêmico. A primeira etapa de análise dos artigos, foi a leitura dos títulos sendo 591 excluídas por serem publicações repetidas entre as estratégias de busca. Das 835 publicações restantes, 368 publicações foram excluídas por serem outro material bibliográfico diferente de artigos científicos, restando 467 artigos científicos. Dos artigos científicos selecionados, 445 foram excluídos após a leitura dos títulos, pois não apresentavam relação com a pergunta da pesquisa. Esses artigos não atendiam aos critérios de conteúdo relacionado à reprodução social e/ou teoria da reprodução social e saúde, nem estabeleciam qualquer correlação relevante com o tema proposto. Assim, apenas um número reduzido de estudos seguiu para as próximas etapas de análise, garantindo que a revisão se mantivesse alinhada aos objetivos da pesquisa. Após a exclusão de artigos com base nos títulos, os 22 artigos restantes foram selecionados para a leitura dos resumos. Dessa etapa, mais  cinco artigos foram eliminados por não apresentarem, em seus resumos, menção aos critérios de reprodução social e/ou à teoria da reprodução social e saúde, resultando em 17 artigos para a leitura na íntegra. Na sequência, após a leitura completa dos artigos, 10 artigos foram descartados por não atenderem à pergunta de pesquisa, restando sete artigos para inclusão nesta revisão.

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Biografia do Autor

Nayara Rúbio Campos, Universidade de São Paulo – USP, Faculdade de Saúde Pública – FSP, Curso de Economia e Gestão da Saúde, Departamento de Política, Gestão e Saúde. São Paulo, SP, Brasil.

Economia e Gestão em Saúde - FSP-USP

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Publicado

08-09-2025

Como Citar

1.
Campos NR, Carnut L. Saúde, reprodução social no capitalismo e o trabalho feminino em Lise Vogel: uma revisão integrativa. J Manag Prim Health Care [Internet]. 8º de setembro de 2025 [citado 10º de setembro de 2025];17(Especial 1):e004. Disponível em: https://jmphc.emnuvens.com.br/jmphc/article/view/1461